Acordou a Colombina nos idos do Rio de Janeiro.Um novo hotel, um novo olhar.
A noite, uma apresentação no teatro.
A noite é quente e Colombina está de bom humor.
Chamam ela a um lual na praia.Nem é lual, é festa para Yemanjá,Oxum,Yansã,Oxalá...sei lá;em fim...todos os orixás a se encontrarem no mar.
Colombina separa um vestido branco, umas rendas que só as nordestinas sabem fazer e que ela mandou vir especialmente da Bahia para ela que ela combina, como só ela, brincos de brilhante e esmeralda verdinha,mais umas perolas,e outras esmeraldas azuis.
Ainda era Colombina oras, tinha de ter o seu toque especial.
No caminho da praia, ela encontra flores que vai agregando a seus cabelos.
Na festa,frutas,água,aguardante,cachaça a vontade.Um banquete.
Eis as benzeções e o Preto-Velho, que bafora a todos com seu charuto e nos benze com galhos de arruda a dizer que o cigarro que fumamos são parte das nuvens do céu e a cerveja que bebemos é a espuma do mar.
Tudo muito ritualístico e envolvente.
Entoam-se mais canções.
Sentada em um tronco, rodeada de pessoas, com os pés sob a areia,Colombina repara um rapaz...um sorriso maroto, uma camisa branca e tão fina mesmo que de tecido barato que é possível de ver os pelos de seu peito.A camisa dele tem uns furos...
Brilha uma corrente dourada.O sorriso não lhe sai do rosto.Ele tem algo na boca...um desses raminhos...palha?Não o cigarro...este está atrás da orelha.
O rapaz enfeitiça Colombina com o olhar , enche a boca de uvas itália e ainda segura umas na mão...e resolve se sentar sem cerimônia ao lado de Colombina.
Troca umas palavras com Colombina e a chama para rodar para a lua...correm para perto do mar.Chutam-se de água...se jogam beira á prainha, caem no chão.O Silêncio é cortado apenas pelo barulho do beijo molhado que se segue e nem se sabe como aconteceu e uns suspiros incontidos de Colombina.
Ela sente o cheiro da respiração ofegante do rapaz como aquela inspiração levare que o maestro dá antes de começar o concerto e aquele cheiro do “homem do mar”,de suor salgado a faz revirar os olhos.
Um abraço apertado entre os dois e se fundem como um só.E o abraço da noite que os permeia.As trevas pesadas os engolem.E o silencio das estrelas os bastam.
Na manhã seguinte , acordam e se olham novamente.
Colombina finalmente pensa ter encontrado o seu amor.
Nascer do sol, despertar da vida.A vida que é constituída de Amor.
E declara para ele em sussuros dizendo que quer doar a ele sua dedicação para cada um dos dias que acordar e dormir.Como mini-vidas que acontecem como que para uma efermera: que nasce de manhã e morre ao por-do-sol.
Só por Hoje.
É um mundo novo e encantado.
A sua fala tem som de música...
O sol vai se levantando e atingindo a orla da praia como que ao ritmo do “Bolero de Ravel”;ao mesmo tempo a empolgação e a juvntude da pele hidratada de Colombina que saltam-lha da face Há ali nova vida.
Colombina não somente quer doar tempo para pensar nele;mas para acompanhar alguns de seus passos, dos quais como expectadora encantada quer estar na platéia para aplaudir com os olhos brilhando ; torcendo como quem vibra na arquibancada do Maracanã.
Ou ainda nas tomatinas da vida que ela não poderá impedir ,estar lá solicita,com um paninho umecido, como uma Maria Madalena sofrida, a esfregar o sudário no rosto de Jesus.
Companheiros de luta.
Colombina está enfeitiçada.Colombina quer compartilhar o sempre de um dia e que seja esse dia bem vivido sem se preocupar com o amanhã.
Esse,o único sempre conhcemos: o dia aoso encontro do amor: que já acordamos amando...e vamos dormir amando.
Ele,por sua vez acaricia o rosto de Colombina com expressão de acordo.
Suspira.Levanta-se , e sai andando sem tirar o olhar de Colombina até que ele some.
Colombina ainda extasiada pensa: “Um boto?Aqui, no Rio de Janeiro? “
Colombina não consegue mover um dedo.Ele foi,mas deixou com ela um sentimento.
Logo, ficou.
E por ardor daquele sentimento, ela tem certeza de que ele irá voltar.
Quem ele era? Vendedor de redes,biscate... um marinheiro certamente.
Não se sabe ao certo.Ele se embarca no mar e some em suas aventuras e desventuras.
eTalvez o Mar.
Uma certeza Colombina tem: aquele homem era um pescador: num aquário escuro e de mágoas profundas, ele pescou o coração e o amor adormecido em Colombina.
Sim, não me repudie,não me conserte, não me corrija, não me oprima.
Colombina odeia ser repreendida!
Colombina o admirou sim!E ainda esta a o admirar!
O primeiro passo para uma mulher amar...
Colombina amou primeiro aquele homem.Como ele era:
Colombina amou quem conheceu.O sorriso dos dentes e dos olhos,e as mão segurando as uvas.
Colombina amou aquela estrutura cheia de pelos,mas não pela aparência e nem que ele fosse feio.
Colombina amou o que viu.Colombina amou o que conheceu.
Não o toque, não o arrepio,não o beijo.Não as uvas que ele lhe ofereceu, não qualquer promessa vil ou vã.Não como um daqueles diamantes baratos que recebeu de seus ex-amantes da alta sociedade.Ele não tem o que oferecer a ela.Mas ele se ofereceu.o Doar-se.
Talvez em outra circunstancia, Colombina ,mulher fina como é,jamais olhasse para ele.
Mas como diz o bordão americano : G’d works on mysterious way... (D’us trabalha de maneiras misteriosas...).
Ou talvez lá em secreto, ele fosse mesmo a idealização de Colombina.
Disseram tanto por aí afora ,que Colombina nem se lembrava do que queria.
Aquele,era o Homem que ela queria.
E sim: amou sim.
Colombina o amou e deseja que ele volte para que construa com o tempo uma estrutura com base.Alicerces.
Mas que não haja determinação de tempo, nem de espaço.
E por que o medo da palavra amor?Talvez porque para Colombina o verbo seja o mesmo que a ação?Qual o medo de amar?Isso não está inerente a nós,seres humanos?Não seria o exercício de um direito?Ainda mais numa democracia brasileira?
Colombina o respeitou.
Assim passam as pessoas pela nossa frente. E talvez nem percebamos.Se quer lembramos da primeira vez.
Não são todas que mexem conosco assim,pois isso seria de vulgarizar o sentimento.Digo daquelas que se tornam “especialmente especiais” para nós, pessoalmente e intransferível.
Segunda tentativa da vida que nem vemos assim: ei!Reparo...um segundo olhar:você.Um bla bla blá, uma bate-papo assim, ao lêo...para que nasça o primeira contato.O sorriso convidativo.
Vê-se outra vez, e mais...mais palavras,mais uvas, mais risinhos.
Assim descompromissado,deixando que digam ,que pense, que falem;deixando tudo pra lá e indo lá.O que é que tem?Não estamos fazendo nada.Faz mal babetr um papo assim gostoso comalguém?
...amar o que conheceu,o que viu, o que se afinou.O que até se surpreendeu.Admirar entre tantas dissonâncias,os “acordes perfeitos”.
E na loucura de John Cage, desejar apenas ser Puccini.
Nessum Dorma!Nessum Dorma!
E que Ninguém durma!Ninguém durma!
Amar as risadas.Coisas que você já amava antes e veio ele... e apenas personificou.
Uma projeção! Pode ser, até uma projeção...mas você vê e é autentica de fato.O que você queria, o que você pediu, o que se interessa por você mas não é exatamente igual a você por isso mesmo te completa.
A saída carinhosa e o silencio do “homem de Colombina da vez,” e ”vez” por muito tempo, ela assim o deseja.
Dá a incerteza diante do outro, que nada sabe e tudo desconfia.
Talvez seja só educação.Talvez também haja ali o interesse,talvez o interesse em entender o interesse.Talvez curiosidade boba, talvez já um pré-enjoo,talvez um tempo...um “aos poucos” dele que se for atropelado perde o encanto.Joguinhos malditos e meios de campo que o homem gosta e a cobtra-gosto Colombina teve de apernder a jogar...talvez,prefirisse a direção.Ou, Talvez não.
Talvez a ignorancia do fato mesmo.
Ninguém nada sabe se não informarem.
Mas pra essas coisas não tem como dizer, não tem como aprender, não tem como informar.Ele tem que sentir.
Ele que tope as aventuras eternas, e se jogue sobre elas.
Talvez não pelo mesmo motivo,mas vai e uma hora há de sentir.
E repelir,e fazer-se de tonto,e te fazer desistir;ou querer mais e te fazer sonhar.
Em tempos que agente prova do couvert pós sobremesa e o cafezinho antes mesmo de sermos convidados para uma janta...parece estranho de minha parte imaginar do jeio que deveria ser:”Oi!Tudo bem?Muito Prazer!Vamos conversar?”.Ou melhor,o jeito mais comum a tempos antigos.Do galanteio,dos “bons modos”,da cortesia.
Até por isso que a Colombina da história teve de personoficar uma transa louca na praia para que se entende-se que ela criou sobre este homem um sentimento de ternura boba de modinha.
Embora cortesia nunca seja demais.
Mas também acontece aos poucos já que em essência não somos diferentes dos nossos avós.
E de lá pra cá convenhamos que em alguns aspectos involuimos.
Mas não condene nem a si, nem a pobre da Colombina!Isso tudo é muito lindo!
E pensando bem,o que quero dizer é que não há fórmula para este compasso!
Livremo-nos dessa tendência acadêmica de querer racionalizar aquilo que é passional!
Então vá , Colombina!
Colombina apaixonada!
E guarda aqueles doces momentos em seu peito da forma como Bete-Seba em seu hino ao Amor ao Rei Salomão alertou as filhas de Eretz Ysrael: “Atenção,ó moças de Jerusalém: Não acordeis e nem desperteis o amor,até que este os queira”.
Na dúvida, o Silêncio e a discrição.E o que esta guardado para si, para si está.Não existe melhor cofre,nem cadeado potente ,nem “macaco “, bomba,fogos de artífico,chaveiro que possa retirar isso de você.
Ai...a brisa do mar que me toca a pela ( brisa...avida pela paixão).
Eis que de trás de Colombina, uma voz de um trabalhador a desembaraçar a sua rede,em sua cantoria singela,simplória.... “a taquara rachada do povo” que outra vez Colombina olvidasse sem dar o devido valor popular, que canta mais uma vez um ponto:
o ponto do marinheiro, que Colombina escuta,de olhos fechados e sorrisos postos.E faz deste a sua prece.
"Oh marinheiro foi você quem trouxe, foi você quem trouxe minha flor amada. Oh marinheiro das águas tão doces, levas minhas mágoas para as águas salgadas."
Excitação...você,meu delírio,devaneio, alucionógeno,
Minha embriaguez.
Sinta o cheiro do ar a entrar em minhas narinas.Sinta o ar entrar em minhas narinas.(Suspiro profundo...)
O Mar.
É você.Meu dia de hoje.
Meu estado atual;motivo de meu sorriso bobo,
Motivo de Minha Alegria.